Luanda - Em 2019, João Lourenço, então consolidado como presidente de Angola, e Fernando Garcia Miala, chefe dos serviços secretos, articularam um plano ambicioso: neutralizar a oposição política e cívica. O primeiro alvo foi Abel Chivukuvuku, afastado da liderança da CASA-CE. Poucos meses depois, a mira se voltou para Adalberto Costa Júnior (ACJ), candidato à presidência da UNITA. A tentativa de barrar sua eleição fracassou, mas a ofensiva não cessou.
Fonte: Club-k.net
No ano seguinte, o Novo Jornal expôs o que até então era confidencial: o regime tinha um “Plano de Combate até à Exaustão” contra o novo presidente da UNITA. A partir daí, ACJ passou a ser atacado diariamente no telejornal. Aos domingos, em horário nobre, um programa sem contraditório dedicava-se exclusivamente a desqualificá-lo. A campanha de difamação, no entanto, não produziu o efeito desejado.
O regime então escalou as hostilidades, instrumentalizando as instituições:
• Em 2021, o Tribunal Supremo congelou as contas bancárias da UNITA. • O Tribunal Constitucional anulou o congresso que havia eleito ACJ. • O SINSE adquiriu tecnologia avançada para reforçar a espionagem sobre opositores.
Ainda assim, em 2022, o MPLA só manteve-se no poder através da mobilização das forças de defesa e segurança. Apesar da fraude eleitoral denunciada por observadores independentes, a UNITA conquistou 90 dos 220 assentos no Parlamento, tornando-se a maior força opositora da história recente.
Nos meses seguintes, o partido do “Galo Negro” parecia ter perdido parte do ímpeto popular, mas voltou a ocupar as ruas de Luanda com marchas e inaugurações de comitês quase todos os sábados. Ao mesmo tempo, João Lourenço começou a enfrentar um fogo interno dentro do MPLA: sectores exigem democratização e mudanças na liderança. Contudo, João Lourenço insiste em governar com mão de ferro, numa postura que beira o culto à personalidade.
Em um dos momentos mais reveladores da sua arrogância política, declarou que o próximo presidente do MPLA deveria ser “jovem”. A referência, segundo analistas, apontava para Adão de Almeida e Manuel Homem – ambos acima de 40 anos, portanto fora da definição internacional de juventude (18 a 35 anos). A declaração foi interpretada como uma tentativa mal disfarçada de controlar sua sucessão, ao mesmo tempo em que Higino Carneiro, o “General 4x4”, anunciou publicamente sua própria candidatura, dizendo-se “destinado” a ser presidente.
O pânico no círculo presidencial resultou em cenas de constrangimento internacional:Recentemente, em Portugal, dezenas de jovens angolanos foram levados – com passagens aéreas, hospedagem paga e cachês incluídos – para gritar em frente à Assembleia da República que “o povo está contigo ”. A encenação foi tão evidente que virou motivo de chacota para o CHEGA principalmente pelo André Ventura .
Enquanto isso, dentro de Angola, a realidade é outra: manifestações espontâneas contra o aumento do combustível ocorrem em várias províncias, e Adalberto Costa Júnior, apesar de perseguido, amplia sua base social.
Por Hitler Samussuku