Luanda - Ah, a segurança pública em Angola… essa verdadeira obra-prima da imprevisibilidade organizada. Segunda-feira, 28, foi mais um daqueles dias em que a Polícia Nacional demonstrou toda a sua perícia em não estar onde devia, deixando claro que o seu modelo de actuação baseia-se, sem sombra de dúvida, num algoritmo avançado de "vamos ver no que vai dar".
Fonte: Club-k.net
Quem diria? A paralisação dos táxis tinha sido anunciada com a antecedência de um feriado nacional, discutida em grupos de WhatsApp, debatida nas zungueiras, analisada pelos candongueiros e até sussurrada pelos cães vadios do Rangel. E mesmo assim, a nossa gloriosa Polícia foi apanhada de surpresa. Devem ter pensado: "Se calhar, desta vez, os cidadãos vão revoltar-se com educação e apresentar queixas por escrito."
Mas não. O que se viu foram pilhagens, arruaças, vandalismo em grande escala. Um verdadeiro reality show à angolana, transmitido pelas redes sociais e, para não deixar dúvidas, até pelo Jornal da Tarde da TPA, que, convenhamos, só transmite o que convém ao regime. E o que fez a PN? Nada. Talvez estivessem a tomar chá na esquadra, a jogar dama ou a debater o último episódio da novela.
O mais irónico é que, quando meia dúzia de jovens se junta com cartazes a pedir melhores condições de vida, a resposta é imediata, gás lacrimogéneo, porrada e uma estadia no resort de Viana. Mas quando vândalos destroem património público e privado à luz do dia, em bairros como o Kilamba Kiaxi, a PN vira invisível. Talvez tenham adoptado a doutrina ninja, estar presente sem ser visto, só que esqueceram a parte de intervir.
E pensar que, em 2022, vandalizaram o comité distrital do MPLA no Benfica e o comandante foi logo exonerado. Mas agora? Bem, parece que a doutrina da exoneração está de férias em Lisboa. Afinal, a incompetência já nem escandaliza, virou política de Estado.
Se houvesse um mínimo de inteligência, e aqui falamos mesmo de inteligência antecipatória, não de palpites ou orações para que tudo corra bem, ter-se-ia:
1. Monitorizado as redes sociais (onde o motim foi praticamente anunciado como evento cultural);
2. Mapeado zonas de risco, com reforço visível da força policial em áreas como Benfica, Viana, Cazenga e Kilamba Kiaxi;
3. Criado corredores de segurança, garantindo o direito à greve sem permitir a criminalidade associada;
4. Mobilizado unidades especializadas em gestão de multidões, com formação em direitos humanos (sim, ainda acreditamos nisso);
5. Activado um centro de comando e controlo operacional em tempo real, para responder com eficácia;
6. E, claro, informado a população com mensagens preventivas e campanhas de sensibilização, porque não custa nada fingir que a polícia também serve ao povo.
Mas não. Preferiu-se o velho e confiável método da ausência estratégica, que consiste em desaparecer e culpar depois a sociedade, os jovens, o colonialismo ou até o FMI.
No fim das contas, o modelo de segurança pública em Angola parece seguir a filosofia da avestruz, enfiar a cabeça na areia, deixar o rabo de fora e esperar que ninguém repare.
Brilhante.